quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Plataforma colaborativa mapeia incêndios em favelas de SP

Plataforma colaborativa mapeia incêndios em favelas de SP:

Para investigar as causas e as consequências dos incêndios que vêm ocorrendo com frequência cada vez maior na capital paulista, projeto cria mapa interativo
Por Mayara Penina, no Blog Mural
“Por que os incêndios em favelas de São Paulo ocorrem, onde e o que acontece com os moradores desses lugares depois?”. Foi para responder essas perguntas que a jornalista Patrícia Cornils começou a tabular as matérias que saíram na imprensa sobre os incêndios.
A partir desses dados, nasceu a plataforma “Fogo no Barraco” que, de maneira colaborativa, fornece informações sobre os incêndios que acontecem nas favelas paulistanas desde 2004, além de cruzar com informações sobre a valorização imobiliária dos bairros.
“Depois do incêndio do Morro do Piolho ou do Jardim Sônia Ribeiro [Dia 3/9 no Campo Belo, zona sul da capital], abri a tabela no Facebook e pedi ajuda para completar os dados. Dezenas de pessoas ajudaram. O Pedro e mais algumas pessoas pegaram as informações e mapearam. E ainda não acabou, estamos recebendo informações, sugestões, e ajuda”, conta Patrícia, que é integrante da comunidade Transparência Hacker.
O programador Pedro Moraes nem conhecia Patrícia antes de ver seu post sobre a planilha sendo retuitado. “Comecei a discutir com alguns amigos a possibilidade de transformar os dados em uma ferramenta visual. Ainda está no começo, vamos integrar muito mais números nos próximos dias e, felizmente, está aparecendo muita gente disposta a ajudar”, comemora.
Paraisópolis, na zona sul, foi a última atingida por um incêndio, em 10/9. As famílias desabrigadas estão em casas de amigos e parentes. Segundo o presidente da Associação de Moradores e Comércio, Joildo Santos, até segunda-feira elas serão contempladas com o aluguel social.
Foram registrados 33 incêndios em favelas da capital paulista desde janeiro. Destes, nove foram em áreas que aumentaram o valor no mercado imobiliário, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).
O tema chamou a atenção da Câmara Municipal, que abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a possibilidade de se tratar de uma atuação criminosa. Porém, a CPI não realizou qualquer investigação até agora. A terceira reunião ocorreu em 12/9 e haverá outra dia 23.
Clique aqui para conhecer o projeto e contribuir.
Mayara Penina, 22, é correspondente de Paraisópolis.
@emayara
mayarapenina.mural@gmail.com

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Brasil cai no ranking!

Rankings são bons para campeonatos de futebol, desfiles de escolas de samba e concursos públicos. Para medir desenvolvimento, rankings são quase que completamente inúteis. Mas a midiazona adora um ranking, principalmente quando o Brasil está mal na parada. Então, saiba que o Brasil caiu no ranking... da carga tributária.

O Brasil estava na 21ª posição no ranking da carga tributária, em 2009. Em 2012, o Brasil caiu para a 33ª posição no ranking da carga tributária da fundação ultraconservadora The Heritage Foundation. Nossa carga continua a mesma, mas os outros países...

Note que metade dos países com carga tributária mais alta que o Brasil é de países desenvolvidos. E quase todos são mais ricos que nosso país. Imposto alto é coisa de país desenvolvido.



Fonte: List of countries by tax revenue as percentage of GDP

Você se indigna mais com corrupção ou com sonegação?

A corrupção impacta em 2% (dois por cento) nosso PIB, segundo pesquisador da Fundação Getúlio Vargas. Para um PIB de 4 trilhões de reais, isto é um prejuízo de 80 bilhões de reais. Para a FIESP, a corrupção dá prejuízo de 70 bilhões de reais.

Já a sonegação atinge um volume de um trilhão de reais. Divididos em cinco anos (que é o prazo para uma dívida caducar), temos um prejuízo público de 200 bilhões de reais por ano.

Por que, então, a maioria das pessoas (como você, por exemplo) se indigna tanto com a corrupção, mas não com a sonegação? Por que se organizam passeatas contra a corrupção, mas não contra a sonegação, que é 3 vezes pior?

Por que a FIESP monta uma impostura como o impostômetro, mas abriga os maiores sonegadores do país?

Você reclama da fila do SUS, como exemplo do que o governo não faz com os impostos. Mas o atendimento do SUS -- apenas uma das múltiplas faces do maior programa de saúde universal do mundo -- é uma obrigação do município. Você pede todas as notas fiscais, cujo imposto vai para o município? Inclusive em bares, médicos e dentistas?

Você se indigna com políticos corruptos, mas compra produtos contrabandeados ou sem nota fiscal?

Então, indigne-se com você mesmo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Desenhando para a mídia entender: o mito do descontrole de gastos com pessoal

O Sindireceita publicou um estudo bem interessante: O Mito do Descontrole de Gastos com Pessoal. Se você acredita no papinho de comentaristas de economia como Sardenberg, Míriam Leitão ou Eliane Cantanhêde, faça as contas e refaça suas opiniões.

Não há nenhum descontrole ou inchaço do estado brasileiro.

Veja a evolução em números:



Agora, desenhos para os comentaristas da imprensa conservadora entenderem: evolução em números absolutos:


Despesas com pessoal em relação à Receita Corrente Líquida (RCL):

E despesas com pessoal em relação ao PIB:

Cadê o inchume do estado?

sábado, 7 de julho de 2012

Mapa dos assentamentos do INCRA no Rio Grande do Sul

Este mapa mostra os assentamentos do INCRA no Rio Grande do Sul, situação até 2012. Foi feito a partir de dados na Relação de Projetos de Reforma Agrária do órgão. É um "quase tutorial" de jornalismo de dados.

Os dados estão em um documento PDF, o que facilita sua visualização mas dificulta sua manipulação. Então eu tive que copiá-los como texto com o PDF Xchange Viewer e limpá-los com o Notepad++, através de procura-e-troca por expressões regulares.

Primeiro, copiei e colei no NP++. Tirei o cabeçalho de cada página com:

^Projetos(.*\n){26}.*UF:
####


(Neste artigo, a primeira linha é o padrão de busca, e a segunda, o que é para colocar no lugar do padrão encontrado). Isto, em linguagem regexp, significa "Selecione, deste o início da linha onde diz "Projetos", mais 26 linhas até onde diz "UF:".

Troquei por "#" para marcar o fim de cada página e facitar a limpeza. No final, tirei-os.

Depois, tirei o rodapé das páginas com:

Page.*\n(.*\n){3}

Troquei por nada.

Sobraram algumas linhas totalizando os resultados e o final do documento, que limpei à mão.

O resultado foram mais de 800 linhas como estas:

PA0006000 PA MIRITIPITANGA 106 RES 06 00205 02/09/1992 TOME-ACU 4.356,0000 92 28/01/1987 Desapropria
PA0016000 PA MANOEL CRESCÊNCIO DE SOUZA 465 POR 07 917 26/11/1986 AURORA DO PARA 17.398,8000 367 26/06/1986 Desapropria


O documento foi gerado com o Cristal Report, programa de formação de banco de dados. Está bem estruturado, o que facilitou a recuperação dos dados em tabelas.

Estranhamente, o Xchange Viewer copiou as colunas de dados (chamados de "campos") em ordem diferente daquela do PDF. Suponho que em função de milimétricas diferenças de posicionamento das linhas no PDF. No entanto, a mudança de posição foi consistente, o que me permitiu recuperar os dados com apenas mais três procuras-e-trocas.

Como o mecanismo de regexp do NP++ só permite guardar até 9 padrões de busca, tive que fazer a busca em duas partes. Primeiro,  busquei e troquei as nove primeiras colunas com:

^([A-Z]{2}[0-9]{7}) *(.*?) *([0-9\.]*) *([A-Z]{3}) *([0-9]{2}) *([0-9]{2,5}|.{1,5}) *([0-9\/]{10}) *([A-Z'\- ]*)([0-9\.,]*)
\1\t\2\t\3\t\4\t\5\t\6\t\7\t\8\t\9#!#


Cada padrão entre parentesis foi recolocado com "\1", "\2", etc, entremeados com tabulação, que prefiro usar em vez de vírgula, nos arquivos CSV.

Em linguagem regexp, isto quer dizer: 

Selecione uma sequência de duas letras e sete algarismos, seguido de nenhum ou mais espaços, seguido da menor sequência de quaisquer caracteres e nenhum ou mais espaços até uma sequência de algarismos ou ponto e nenhum ou mais espaços, seguido de três caracteres e nenhum ou mais espaços, seguido de dois algarismos e nenhum ou mais espaços, seguido de dois a cinco algarismo ou de nenhum a cinco caracteres quaisquer e nenhum ou mais espaços, seguido de uma sequência de dez algarismos ou barra e nenhum ou mais espaços, seguido de uma sequência de caracteres, apóstrofe, hífen ou espaço e nenhum ou mais espaços até uma sequência de quaisquer algarismos, ponto ou vírgula, inclusive.

Este padrão casou com os seguintes campos, conforme a cor indica:

PA0006000 PA MIRITIPITANGA 106 RES 06 00205 02/09/1992 TOME-ACU 4.356,0000 92 28/01/1987 Desapropria

Usei um marcador temporário (#!#) que será usado para encontrar a posição nos resistro que ainda não foi trocada. Então, busquei e troquei as últimas colunas com:

#!# *([0-9\-\.]*) *([0-9\/]{10}) *(.*)
\t\1\t\2\t\3


Isto quer dizer:

Procure pela sequência #!# e nenhum ou mais espaços até uma sequência de algarismos, hífen ou ponto e nenhum ou mais espaços seguido de uma sequência de dez algarismos ou barra e nenhum ou mais espaços, seguidos de quaisquer caracteres até o fim da linha.

Estas buscas e trocas deixaram poucas linhas que foram consertadas à mão.

O arquivo foi salvo em formato Comma Separated Values (CSV) e carregado numa planilha LibreOffice, onde foi feita a consistência dos dados, as colunas colocadas na ordem do documento PDF e a coluna com vírgula decimal foi marcada como língua inglesa, para trocar a vírgula por ponto decimal.

Copiei os nomes de cidade e assentamentos, colei no NP++ e baixei a caixa (coloquei em formato nome próprio), cuidando depois de trocar " Do " por " do ", " Da " por " da ", " D'a " por " d'A ", etc. Isto é necessário porque o recurso de juntar tabelas no GFT precisa ter uma casamento perfeito entre os nomes de cidade e seu mapa.

A seguir, filtrei os dados do Rio Grande do Sul e subi para o Google Fusion Table. Não subi todos os dados porque o GFT tem limite de 3 mil linhas de dados, e o arquivo do INCRA tem mais de 8 mil registros.

No Fusion, agreguei os dados por município, baixei como CSV e subi novamente para poder fazer o mapa com os dados agregados. Fiz um merge com os mapas dos municípios do Rio Grande do Sul que tenho em outra tabela, ajustei a apresentação dos balões de informação, mudei a cor do mapa de tons para vermelho. O resultado aparece abaixo. Clique no município para ver os dados.



Veja a tabela original no Google Fusion Tables. E use os mapas dos municípios do Rio Grande do Sul à vontade.

quinta-feira, 1 de março de 2012

PISA x PIB: Relação entre educação e riqueza das nações

Existe uma relação entre educação e a riqueza de uma nação. Quanto mais rica, melhor educação terá seu povo. Pouco adianta lamentarmos uma suposta baixa qualidade da educação brasileira se não relacionarmos o desempenho do estudante brasileiro com a riqueza do Brasil. Mas esta relação é linear?

Para obter a resposta, criei uma planilha com o resultado do teste PISA da OCDE de 2009, em Leitura, Matemática e Ciências, relacionado com o PIB, à época, dos 65 países envolvidos no teste PISA.

O PIB não é o melhor indicador da riqueza ou do desenvolvimento das nações, mas é o que tenho em mãos. Usei os dados do CIA Fact Book. Futuramente poderei relacionar com o IDH. Para ser mais preciso, eu deveria ter usado o orçamento nominal em educação de cada país (o Brasil investe 5% do PIB em educação, enquanto outros países investem 12%, por exemplo), mas este dado é  difícil de se obter para todos os 65 países que aplicam o teste PISA.

Primeiro, vejamos o ranking da eficiência, isto é, qual país gastou menos para conseguir o mesmo resultado. Como não tenho os gastos em educação de cada país, usei o índice grosseiro de riqueza, o PIB per capita. As tabelas relacionam, então, a riqueza do país com seu resultado no PISA. O quão o país é rico, per capita, por cada ponto no teste.



Pela tabelas, vemos que o Quirguistão é o campeão da eficiência educacional. E o Brasil não faz feio: está entre o 12º e o 15º lugar, pelo seu nível de riqueza.

Mas a relação riqueza versus melhores resultados cresce linearmente? Quanto mais o Brasil for rico, mais educado será?

Combinando os dados numa planilha LibreOffice Calc -- pontos PISA no eixo vertical, PIB per capita no eixo horizontal -- obtive o seguinte gráfico de dispersão:
Com este gráfico, nota-se que o aumento da riqueza não corresponde a um aumento automático e linear da Educação. Diferentemente, há uma curva que indica que a riqueza aumenta, mas a Educação não aumenta na mesma proporção. Pode-se notar uma "curva de aprendizado versus riqueza", que aparece em verde no gráfico abaixo (tracei-a manualmente), em vez de uma linha reta vertical.
Além disto, há um ponto em que o aumento da Educação desacelera notavelmente, em torno do PIB de 20 mil dólares PPC ou 480 pontos PISA. Assim, pode-se criar um vetor de eficiência educacional, isto é, uma interpretação de que alguns países são mais eficientes que outros na utlização de seus recursos. Este vetor é expresso pela seta azul, no gráfico abaixo, que flexiona a curva de aprendizado.
Desconsiderando os pontos fora da curva (dois paraísos fiscais e outro montado em petróleo), nota-se claramente que a curva tem dois momentos.

Países com renda de até 20 mil dólares PPC per capita têm um aumento considerável no desempenho PISA, quanto mais ricos são. Pode-se concluir que o desempenho educacional -- a eficiência da educação -- é crescente. Este grupo é marcado pela seta azul, no gráfico abaixo.
A partir do PIB per capita de 20 mil dólares PPC, o crescimento do desempenho cai muito, concluindo-se que diminui a eficiência educacional. A riqueza destes países, que supostamente envolveria aumento dos investimentos em educação, não corresponde à mesma eficiência que países de até 20 mil dólares per capita. Este grupo é marcado pela seta azul, no gráfico abaixo.

Conclusões

O Brasil está exatamente na posição que deveria estar em Educação, pelo seu nível de riqueza. Talvez esteja até melhor, porque investe pouco em Educação, pela porcentagem do PIB, em relação a outros países. Não há uma "tragédia da educação brasileira".

O desvio da curva poderia resultar de uma característica do teste PISA. Países pobres acertariam questões mais fáceis, e mesmo países ricos teriam mais dificuldades em acertar questões mais difíceis. Note-se que o teste PISA vai até 1000 pontos, e a China "só" chegou a 600. Nem "passaria por média 7". [Atualização: isto deve-se à metodologia dos testes PISA, a Teoria de Resposta ao Item. Ninguém chega à nota máxima teórica.].

No entanto, caso o desvio da curva não seja causado por situações como esta, se quisermos eficiência em nossa educação não deveríamos nos espelhar em países como a Finlândia ou Coréia do Sul, mas em países como a Estônia e China (não estou certo quanto à China. Está muito fora da curva).

Dados analisados

Planilha Google Docs Eficiência no teste PISA 2009.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Educação: Brasil tem eficiência razoável

Sem métricas e avaliações, é praticamente impossível se saber  administrar eficientemente qualquer atividade.

Eu fiz umas planilhas que relacionam o resultado dos estudantes no teste PISA 2009 com a riqueza das nações. A medida de riqueza que usei foi o PIB. Infelizmente uma medida ruim, mas é o mínimo denominador comum que temos.

Dados interessantes:

  • Em Matemática, o Brasil tem a relação de PIB per capita por cada ponto no teste PISA de 28 dólares. Na Finlândia a relação é de 65 dólares. Na China, 12 dólares per capita por ponto PISA. No Quirguistão, 6 dólares. Portanto, os quirguizes e chineses são campeões em eficiência educacional pela riqueza que produzem.
  • A eficiência brasileira em educação é razoável. Nas diversas áreas, ficamos entre o 12º e o 15º lugar entre os 65 países avaliados pela OCDE.
  • O desempenho chinês é surpreendente!
Mas, reparem as manchetes costumeiras cada vez que são noticiados os dados do PISA: "o Brasil está em péssimo lugar", "há uma tragédia na educação brasileira", "uma vergonha", blá blá blá...

Veja abaixo ou acesse a planilha e copie para seu Google Docs para analisar melhor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A carga tributária é injusta?

WALDIR SERAFIM

A carga tributária bruta no Brasil atingiu em 2008 a estratosférica taxa de 36,2% do PIB. Segundo estimativa do IPEA, se dividida homogeneamente ao longo do ano, a carga tributária per capita no Brasil consumiu, em média, a renda gerada por 132 dos 365 dias de 2008. É uma das mais altas do mundo. Isso quer dizer que de cada cem reais da renda gerada na economia, trinta e seis reais são tungados pelo governo (federal, estadual e municipal) através dos inúmeros tributos que nós, cidadãos conformados, pagamos inconformados.

Mas ainda que esses números assustem a primeira vista, creio que devemos reposicionar o debate. Existe uma diferença muito grande entre carga tributária bruta e carga tributária líquida. O que alcançou 36,2% (trinta e seis por cento e dois décimos) é a carga tributária bruta, não a carga tributária líquida, que atinge módicos 14% (catorze por cento) do PIB, o que para um país como o Brasil, não é grande. E isso faz uma grande diferença. Na realidade o governo fica com apenas um terço do total arrecadado para atender as suas funções, para oferecer serviços à sociedade com saúde, educação, segurança, investimentos diversos em infraestrutura, etc., o que é insuficiente. O resto é devolvido à população sob a forma de pagamentos previdenciários, as transferências com programas sociais, como o Bolsa Família, o pagamento de juros e os subsídios a empresas. Isso é o que precisa ser discutido.

Creio que é de concordância geral, quase unânime, exceto por alguns radicais de esquerda, que esses recursos, transferidos ao governo sob forma de tributos, se permanecessem na iniciativa privada seria muito mais produtivo. Não se tem dúvidas que o setor privado é muito mais eficiente, no que diz respeito à geração de riquezas, do que o setor público. Mas por outro lado, num país como o Brasil, que conta com uma injusta distribuição de rendas, é defensável e necessária a interferência do governo com o objetivo de distribuir melhor a riqueza gerada pelo país. E isso se faz através dos tributos: tira dos mais ricos para distribuir para os mais pobres, quer sob a forma de distribuição direta de renda, quer sob a forma de fornecimento de serviços.

Frente a essa realidade, entendo eu que a discussão está um pouco desfocada, ou seja, não é o quanto está sendo arrecadado, mas sim a destinação dos recursos. Será que em realidade está se processando uma transferência de rendas dos mais ricos para os mais pobres? Ou, por outras palavras: será que se está cumprindo o princípio da equidade ou da capacidade contributiva, segundo o qual, o estabelecimento da contribuição dos cidadãos para o financiamento do Estado deve ser compatível com a sua capacidade econômica?

Estudos recentes têm demonstrado que o sistema tributário nacional faz exatamente o contrário: os 10% mais pobres da população brasileira destinam 32,8% da sua -pouca - renda para o pagamento dos tributos, enquanto os 10% mais ricos, esse índice cai para 22,7%. Em termos de salários mínimos, as famílias que ganham até dois salários mínimos pagam 48,8% de sua renda em tributos, enquanto famílias com renda acima de 30 salários mínimos, cerca de 26,3%. (in "Silveira, F.G. - Tributação, Previdência e Assistência Sociais: impactos distributivos. Tese de Doutorado. Instituto de Economia, Unicamp: Campinas, 2008).

Pelo total dos gastos, um item chama a atenção: os juros da dívida pública. Do total arrecadado, cerca de 18% (dezoito por cento) são destinados a pagamentos de juros da dívida pública, ou seja, para remuneração dos detentores de títulos do governo. Nesse caso é uma redistribuição de rendas às avessas: de todos os contribuintes, incluindo os mais modestos - através de impostos sobre compras -, e destinada aos detentores da dívida pública, principalmente os bancos e as famílias mais ricas, com possibilidade de aplicar suas economias nos mercados financeiros.

Por outro lado há que se entender que a dívida pública é resultado das políticas do governo, tanto a fiscal como a monetária. Pelo lado da política fiscal, pelos recorrentes gastos maiores do que as receitas, o que gerou, ao longo do tempo, persistentes déficits fiscais os quais deram origem a dívida, propriamente dita. Pelo lado da política monetária, as taxas de juros têm sido o instrumento preferencial do governo, no combate à inflação. Quanto maior a taxa de juros maior é o montante dos serviços da dívida: juros e encargos. E as taxas de juros no Brasil, é uma das maiores do mundo.

A dívida pública brasileira, que é a soma dos débitos dos governos federal, estaduais e municipais, chegou, em dezembro de 2008, a R$ 1.150 trilhões, o que representou 42,8% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas no país. Os juros pagos por União, Estados, municípios e estatais (setor público consolidado) chegou a R$ 159.532 bilhões, em 2008, o que correspondeu a 5,6% do PIB. Em 2007 essa relação foi ainda maior, 6,2% do PIB. E deve-se ressaltar que foram pagos apenas parte dos juros, o restante foi capitalizado no montante da dívida.

A título de comparação, o montante aplicado pelas três esferas de governo: federal, estadual e municipal, em ações e serviços da saúde, corresponde a 3,6% do PIB, segundo dados do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS) e para educação (infantil, fundamental, média e superior), dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam para um montante que corresponde a 4,3% do PIB.

Em ambos os casos, menos do que foi gasto com o pagamento de juros. Com o programa bolsa família, o governo gastou R$ 11,1 bilhões, ou 0,38% do PIB. Enquanto isso, com os gastos com o pagamento de benefícios previdenciários aos servidores públicos federais, o Governo Federal gastou, em 2008, R$ 60,0 bilhões, 2,07% do PIB e com o Sistema Geral da Previdência, os gastos montaram R$ 189,0 bilhões, ou seja, 6,54% do PIB.

Embora não esgotando o assunto, no âmbito deste artigo, pode-se concluir que o sistema tributário nacional é injusto na arrecadação, cobrando mais de quem pode menos, e distribui muito mal os recursos arrecadados, devolvendo às classes mais ricas, parte substancial do montante arrecadado, sob a forma de pagamento de juros e benefícios diversos.

Conclusão: o sistema tributário nacional brasileiro é altamente regressivo e não cumpre sua função social.

WALDIR SERAFIM é economista e professor universitário em Cuiabá.

Via Midia News | Opinião

domingo, 8 de janeiro de 2012

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Papagaio come o milho, periquito leva a fama


Do Blog  do Sarafa

No ano passado ocorreram enchentes em Pernambuco, fato amplamente divulgado. Para evitar a repetição nos anos seguintes, o Governo de Pernambuco estimou o valor das obras – 250 milhões de reais – e reivindicou recursos do Governo Federal. Apresentou os projetos, seguiu toda a burocracia, mas no final recebeu apenas 25 milhões, ou seja, 10% do valor.

Agora, o jornal O ESTADO DE SÃO PAULO pegou esse valor e comparou com os repasses federais feitos aos Estados apenas nessa rubrica concluindo que esse valor corresponde a 90% da verba gasta pelo Governo Federal em prevenção de enchentes. Virou manchete e ataques ao Ministro Fernando Bezerra sob a alegação que ele é de Pernambuco e por isso estaria privilegiando o seu Estado natal.

Hoje todos os colunistas políticos do eixo Rio, São Paulo e Minas atacam o Ministro. Falam sempre que 90% dos recursos foram para Pernambuco, mas não dizem que esses 90% representam 25 milhões de reais.

Acessei o PORTAL DA TRANSPARENCIA e verifiquei que em 2011 o Governo Federal repassou para Estados e Municípios o valor total de R$ 237.271.169.809,83. Desse total, São Paulo recebeu R$ 26.511.999.809,60, ou seja, 11,17% do todo;  o Rio de Janeiro,  R$  20.542.872.058,50, ou seja, 8,66%; e Minas Gerais  R$ 19.721.686.132,87, 8,32%. Esses três Estados, onde está a grande imprensa, ficaram com 28,06% do bolo total de DUZENTOS E TRINTA E SETE BILHÕES DE REAIS, e não com 90% de uma parte infinitamente menor do todo, igual a VINTE E CINCO MILHÕES DE REAIS.

Isso, no entanto, eles escondem e ficam fazendo onda com um repasse de 25 milhões quando eles receberam 67 BILHÕES DE REAIS, ou seja, quase 3.000  vezes mais e quase 1/3 de todo o monte, sobrando os outros 2/3 para dividir com as outras 24 unidades da Federação.

Não sei se isso é só ignorância, ou se é má fé. Acho que tem um pouco de cada coisa.

Acesse o Portal da Transparência, conheça todos os dados e tire suas conclusões.

Do Blog  do Sarafa