sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Censo de 2010 mostra que as desigualdades no Brasil persistem

por Joe Leahy, de São Paulo, no Financial Times

O Brasil ainda está muito longe de se tornar uma sociedade mais igualitária, apesar dos avanços significativos da última década, quando milhões de pobres subiram para as classes médias, de acordo com o Censo de 2010.

Entre as desigualdades mais aparentes, os dados descobriram que 25% da população ainda vivem com uma renda média per capita de até 188 reais e metade da população com até 375 reais. Isso comparado com o salário mínimo de 510 reais em 2010.

“Os resultados do Censo de 2010 mostram que a desigualdade de renda ainda é muito forte no Brasil, apesar da tendência declinante observada em anos recentes”, disse o escritório de dados governamental, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — conhecido como IBGE.

Uma vez notório por sua divisão entre ricos e pobres, o Brasil deu grandes passos na última década. A ascensão de uma nova classe média, que está atraindo uma onda de investimentos multinacionais, de companhias de automóveis a fabricantes de alimentos, que competem por uma fatia do mercado, foi possível graças a aumentos do salário mínimo, melhoria dos benefícios de bem estar social e um gerenciamento econômico estável.

Em particular, governos sucessivos foram capazes de acabar com a inflação desenfreada, que erodia o valor dos salários e a poupança dos que ganhavam menos, enquanto beneficiava os que eram suficientemente ricos para comprar propriedades ou poupar em dólares.

De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas, uma instituição acadêmica, um número estimado de 33 milhões de pessoas subiram para as assim-chamadas “novas classes médias” desde 2003. Hoje, 105,5 dos 190 milhões de brasileiros pertencem a este grupo, ganhando entre 1.200 e 5.174 reais por domicílio.

Mas o Censo indica que centenas de milhões de pessoas ainda precisam avançar ou foram deixados completamente para trás. Discrepâncias entre as raças são as maiores. O salário médio mensal dos brasileiros brancos era de 1.538 reais em 2010, de orientais 1.574, quase o dobro dos salários de negros ou pardos, com 834 reais e 845 reais, respectivamente, e mais que o dobro dos indígenas, de 735 reais.

Os brancos também vivem mais, enquanto negros e pardos representam maior proporção entre as pessoas de menos de 40 anos de idade. “Os brancos tem maior proporção entre as pessoas na terceira idade — os com mais de 65 anos, mas especialmente os com mais de 80 anos — o que provavelmente está ligado a diferenças nas condições de vida, acesso a tratamentos de saúde, além de distribuição desigual de renda”, disse o IBGE.

O mesmo padrão é visto nos níveis de analfabetismo. Embora a taxa de analfabetismo nacional dos que tem mais de 15 anos tenha caído de 13,63% em 2000 para 9,6% em 2010, chega a 28% em algumas cidades médias nas regiões mais pobres do Nordeste.

O analfabetismo entre os negros era de 14,4% e entre os pardos de 13% em 2010, quase o dobro do índice de analfabetismo entre os brasileiros brancos, de 5,9%.

De: A imensidão do que ainda há por fazer:

IBGE confirma marolinha


É uma notícia extraordinariamente positiva para o país, embora a essa altura não desperte muito entusiamo. O IBGE revisou para baixo a recessão que sofremos em 2009, por conta da crise econômica mundial. Se antes, a estimativa era de que o PIB brasileiro havia declinado 0,6% em 2009, o instituto agora estima uma queda de somente 0,3%.

Com isso, a expectativa é que os números do PIB para 2010 também devem melhorar na próxima revisão.

O infográfico acima, publicado no Globo, mostra como o consumo das famílias foi responsável por segurar a queda na economia brasileira. Com crise e tudo, as famílias registraram aumento de 4,4% no consumo em 2009. Também vale ressaltar o crescimento na participação da remuneração dos empregados no PIB de 2000 para 2009, de 40% para 43,6% (“a mais expressiva da década”, segundo o IBGE), e queda do percentual referente aos lucros, de 35% para 33%. Houve um aumento, portanto, da parcela dos trabalhadores na renda nacional.

Confira aqui a nota do IBGE.

Examinando a matéria do IBGE, achei interessante a seguinte informação:


Sendo a carga tributária brasileira um dos números mais usados no debate político, estou sempre atento a ela. E concordo que ela é alta no Brasil, sobretudo porque implica não somente em ônus financeiro para as empresas e cidadãos, mas também numa burocracia que paralisa o empreendedorismo. Por outro lado, não podemos enveredar por uma discussão irresponsável, que negue a importância de uma carga tributária justa e, sobretudo, suficiente para arcar com as necessidades gigantescas de um país ainda em formação.

Sou um grande aventureiro e curioso em matéria de economia, um tema que estudo com fins jornalísticos, e não me lembro de ter visto muito por aí esse conceito de “carga tributária líquida”. É um número interessante porque, ao descontar subsídios e incentivos fiscais, nos dá uma visão mais realista do peso dos impostos no país. Segundo o IBGE, a carga tributária bruta no país caiu de 34,9% para 33,7% em 2009. Uma boa queda. E a carga líquida ficou em 18,5% em 2009, contra 20,5% no ano anterior.

Aproveitei a lembrança desse novo índice, e fui no IPEA-Data conferir o que tem por lá. Catei os seguintes números:


A informação tem forte conotação política, naturalmente, pois em todo mundo a questão dos impostos é uma das que mais acende paixões ideológicas nos cidadãos. O quadro mostra que a carga tributária líquida passou de 14,86% em 1995, primeiro ano do governo FHC, para 18,29%, último ano dele. Aumento de 23%. De 2003 a 2009, primeiro ao penúltimo ano da era Lula, a mesma passou de 17,32% para 18,49%. Aumento de 6%. Não é a tôa que os brasileiros não acreditam muito quando os tucanos fingir abraçar o discurso anti-imposto…

De: IBGE confirma marolinha

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

IDH: Lula está certo, venderam jornal velho

Publiquei um post no blog Projeto Nacional que, pelo tema, achei conveniente reproduzir aqui:

“Vocês devem ter lido que o ex-presidente Lula, no meio de um sério tratamento de saúde, abalou-se para reclamar dos números do Índice de Desenvolvimento Humano divulgados quarta-feira, com grande estardalhaço.

Nele, o Brasil subia apenas uma posição, ficando em 84° lugar, entre 187 países. E ainda caía, quando levados em conta os indicadores de igualdade/desigualdade social.
Prato feito para nossa imprensa.

Se não é Lula, sem voz, estrilar, virava verdade.

Mas, como ele estrilou, é só convidar os jornalistas a visitarem, no site da própria ONU, a página que dá a informação sobre de onde eles tiraram estes dados.

É aqui: http://hdr.undp.org/en/media/List_of_surveys_used_for_2011_IHDI_estimation.pdf

E lá você vai ver que as estatísticas usadas foram as da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, PNAD, do IBGE, que é divulgada anualmente, com dados do ano anterior.

A que o ranking do IDH usou é a de 2005, com dados de 2004!

A de 2009 está disponível no site do IGBE, com os dados do ano de 2008, como você pode ver aqui.

Agora, compare o que acontecia em 2004 com este gráfico publicado semana passada sobre renda e desigualdade no Brasil pela The Economist, no qual traduzimos os títulos, sem mexer nos dados.

Venderam a todo mundo o jornal de ontem. De ontem, não, de seis anos atrás.”

Fonte: Tijolaço

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A corrupção e a tartaruga de Alice

A mídia brasileira não hesita no emprego de sua peculiar aritmética.

Marcos Coimbra

Em uma das passagens mais conhecidas de Alice no País das Maravilhas, a heroína entabula um diálogo com a Falsa Tartaruga, um ser melancólico, sempre triste por ter deixado de ser uma tartaruga de verdade.

A alturas tantas, a tartaruga relembra os dias na escola e as matérias que estudara: “Reler e escrevinhar, é claro (…) e os diferentes ramos da aritmética: Ambição, Distração, Enfeiamento e Escárnio”. Quando a menina lhe pede que explique o que quer dizer o terceiro, ela responde: “Você sabe o que é embelezar, imagino (…) então você sabe o que é enfeiar”.

A mídia conservadora brasileira é uma espécie de Falsa Tartaruga. Ela não hesita no emprego de sua peculiar aritmética de enfeiar, confundir e escarnecer.

Sua proeza mais recente é a fabricação de uma conta sobre o tamanho da corrupção no Brasil, seguida de sua difusão maciça. Faz como ensinava um famoso propagandista alemão: para transformar uma mentira em verdade, é preciso repeti-la mil vezes.

Hoje, ela fala em 85 bilhões de reais anuais, como se pode ver na capa da principal revista da direita nativa. Ontem, eram 70 bilhões. Amanhã, sabe-se lá. E não importa. O relevante é trombetear uma cifra que impressione, qualquer que ela seja.

A mídia conservadora pega o número e o põe nas manchetes, na boca de comentaristas televisivos, em suas “análises”. Ficam todos compungidos com o tamanho do pro-blema. Como se não fosse ela mesma que lhe deu a dimensão que tanto a assusta.

Tudo começou com a divulgação de um estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, que tinha a intenção de estimar os “custos econômicos da corrupção” no Brasil. Como passou a ser referência, vale a pena entender o que fizeram seus autores.

Seu ponto de partida foi usar de forma questionável algo banal, os estudos sobre percepção de corrupção, que perguntam a determinado público se acha que ela existe e se seria grande ou pequena. Como as respostas decorrem de impressões, o resultado, óbvio, é subjetivo.

Se, por exemplo, a mídia estiver falando muito do assunto, os entrevistados podem imaginar que a corrupção aumentou, sem que tenha crescido um só milímetro objetivamente. Vice-versa, podem achar que diminui enquanto cresce.

O que o estudo da Fiesp fez de mais condenável foi usar uma medida de percepção da corrupção para inferir seu custo real. Inovaram, fazendo algo que, mundo afora, ninguém faz.

Um problema adicional da metodologia é a fragilidade de suas bases de dados. Para chegar à “corrupção percebida”, a fonte são avaliações de técnicos -estrangeiros (vinculados, tipicamente, a empresas de cálculo de risco), somadas a alguns poucos e modestos estudos com empresários brasileiros.

Exemplificando: o Fórum Econômico Mundial faz, em média, 98 entrevistas por país; o Institute for Management Development, 83. Qualquer um vê que seu tamanho é insuficiente.

São pesquisas que usam questionários autorrespondidos, o que as complica ainda mais. Quando a Transparência Brasil quis fazer algo parecido, convidou 4 mil empresas, mas obteve apenas 76 respostas. Como imaginar que essas 0,019% sejam representativas, se foram só elas que quiseram participar?

Os técnicos da Fiesp utilizaram o Índice de Percepção da Corrupção (IPC), calcula-do pela Transparência Internacional para 180 países, e resolveram inventar (verificaram que o Brasil melhorou de 1996 para 2009, mas preferiram deixar isso de lado).

O IPC brasileiro, em 2009, era 3,7 (em uma escala que chega a 10, que significa zero de corrupção percebida). E se nosso índice fosse maior, se a percepção fosse menor?

Mas quanto? Talvez achando que suas especulações pareceriam mais “científicas”, escolheram 12 países a esmo para calcular seu IPC médio. Ficaram, sabe-se lá por que, com Coreia do Sul, Costa Rica, Japão, Chile, Espanha, Irlanda, Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Canadá, Cingapura e Finlândia.

Se a corrupção percebida no Brasil fosse igual (por alguma razão misteriosa) à média desses países, nosso IPC iria para 7,45. E daí? Iria para menos se substituíssemos a Finlândia pela Holanda, “mais corrupta”. Para mais, se trocássemos a Espanha pela Eslovênia, “menos corrupta”. E daí?

Daí vem a prestidigitação do estudo da Fiesp. Tomaram um modelo neoclássico de crescimento econômico e resolveram torná-lo “sensível ao índice de percepção da corrupção”. Para isso se deram ao direito de modificar o modelo (sem dizer como) para “incluir os efeitos da corrupção sobre o crescimento de longo prazo do produto per capita” (embora continuassem a falar, somente, de percepções).

Se, então, nosso IPC fosse 7,45 e se o modelo que inventaram fosse verdadeiro, o produto per capita brasileiro seria 1,36% maior ao ano, entre 1990 e 2008. Como o IPC real é menor, teria havido, nessa lógica estranha, um “prejuízo” (o “custo da corrupção”) de 41,5 bilhões de reais anuais.

E se o IPC brasileiro fosse 10? Se ne-nhum dos empresários ouvidos achasse que há qualquer tipo de corrupção no Brasil? Se fôssemos o único país do mundo com esse índice (melhor que o da Dinamarca, o “menos corrupto”)?

Aí o “prejuízo” de ter o IPC de 3,7 seria maior. Chegaria a 69,1 bilhões de reais anuais (a preços de 2008), que nossa mídia arredondou para 70 bilhões.
E assim se explicam os números que andam por aí: pesquisas limitadas, metodologias discutíveis, inferências sem fundamento. Eles não dizem simplesmente nada.

Se alguém quiser um exemplo melhor da aritmética da Falsa Tartaruga, vai ter trabalho. Faz tempo que não vemos uma discussão tão sem pé nem cabeça.

Da Carta Capital.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Será que eles vão encarar?

Os fatos recentes envolvendo a saúde do presidente Lula e as reações de parte dos que o odeiam e gostariam de vê-lo morto me fizeram lembrar a famosa Curva de Gauss. Tinha um tio que costumava dizer que a sociedade e sua "opinião pública", obedeciam rigorosamente à curva da previsibilidade. Haveria sempre aqueles 5% radicalmente contra, os 5% radicalmente à favor e os que ele chamava de Normais.

Portanto, a parte da elite que torce pela morte do ex-presidente nada mais é do que 5%, que são e serão sempre os mesmos (figura 1). No extremo oposto estão os outros 5% que estariam dispostos a caçá-los até a morte. Sendo assim, os radicais, tanto de esquerda, quanto de direita, se complementam e se anulam. Sobram os 90% que são quem de fato decidem as coisas.

Mais uma curiosidade sobre a tal Curva de Gauss e a aprovação de Lula é que a duas porções centrais do "sino" somadas representam pouco mais do que 68%. Se adicionarmos todas as porções à esquerda, por exemplo, teremos uma área equivalente a 84%, numero bem parecido com a opinião positiva que os entrevistados tem do nosso ex-presidente. Os outros 16% são a soma dos que o odeiam, detestam, não gostam muito e gostam só um pouquinho.

Tudo isso para dizer que não vale a pena se preocupar com a turma dos 5%. Eles são irrelevantes nesse processo onde, ainda que Lula não seja unanimidade (graças a Deus!), ele tem 180,5 milhões de brasileiros que torcem a favor e apenas 9,5 milhões contra? Será que eles vão encarar?

Post original: DoLaDoDeLá,
Será que eles vão encarar?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Brasil supera Alemanha e é o terceiro país com mais internautas

Estudo do Ibope Nielsen Online mostra alta histórica no número de brasileiros que moram em casas com PC conectado a web

Claudia Tozetto, iG São Paulo

Um novo estudo do Ibope Nielsen Online, com base em dados de setembro de 2011, mostra que o Brasil já reúne 46,3 milhões de usuários ativos de internet, 14% a mais do que no mesmo período do ano passado. De acordo com o Ibope, o total de brasileiros que acessam a internet a partir de qualquer local, entre eles a casa, trabalho, lan house, entre outros, atingiu 77,8 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2011.

Com o resultado, o Brasil superou a Alemanha e se tornou o terceiro país com maior número de internautas. O País está atrás apenas dos Estados Unidos, em primeiro lugar com 203,4 milhões de usuários de internet, e do Japão, com 62,3 milhões de pessoas conectadas. Apesar disso, a taxa de crescimento brasileira é maior que a de todos os nove países analisados pelo Ibope (8,3%) - além de ser o único país latino-americano presente na lista.

As conexões em residências brasileiras foram as que apresentaram maior crescimento no período analisado pelo Ibope. No último ano, o número de casas que possui algum tipo de conexão com a internet passou de 31,8 milhões para 37,8 milhões. Nos últimos dois anos, o crescimento registrado foi de 37%.

O número de brasileiros que moram em casas com computador conectado a internet, segundo o estudo, aumentou para 58 milhões em setembro de 2011, 10 milhões a mais que no ano passado. Segundo o Ibope, este aumento representa o maior crescimento anual dos últimos 10 anos.

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